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Sinopse:
A Enterprise está instalando um
retransmissor subespacial para permitir contato em tempo real com
a Terra, quando uma nave alienígena se aproxima. Archer tenta
contatá-la, mas os estranhos partem, sem ao menos dar uma
resposta. Diante da tentativa fracassada de primeiro contato, o
capitão passa a se dedicar a uma outra tarefa --descobrir o prato
predileto do tenente Reed, que faz aniversário no próximo dia 2
de setembro.
A pedido do capitão,
Hoshi Sato localiza os pais de Reed, que estão morando na Malásia.
Archer entra em contato com os dois, mas a comunicação não é
muito frutífera: não só eles não sabiam o que Malcolm mais
gostava de comer, como nem sequer sabiam qual era a função de
seu filho a bordo da Enterprise.
Após a tentativa fracassada, Archer passa a tarefa a Hoshi Sato.
A alferes tenta obter as informações procuradas contatando a irmã
de Malcolm e seu melhor amigo na Frota Estelar, mas os dois também
não conseguem dar nenhuma informação. Ao que parece, Malcolm é
tão introvertido que ninguém consegue realmente saber quem ele
é e do que ele gosta. T'Pol sugere a Hoshi que o melhor meio de
conseguir a informação que quer seja falando com o próprio
oficial de armamentos.
Enquanto
isso, a nave alienígena faz uma segunda aparição. Ela não
responde aos chamados, como da outra vez, mas agora toma uma
postura agressiva, atacando a Enterprise. A nave sofre uma pane de
diversos sistemas, inclusive o motor de dobra. Dois alienígenas
invadem a nave e conduzem alguns experimentos em tripulantes
humanos. Archer chega a tempo de evitar que eles morram, mas seu
ataque contra os invasores é inócuo. Mesmo assim, eles decidem
fugir.
Sem capacidade de dobra, o capitão começa a se preocupar pela
segurança de sua nave. Ele decide pedir ajuda aos Vulcanos, mas
é impossível estabelecer contato com o Alto Comando, pois os
alienígenas destruíram os retransmissores subespaciais recém-colocados
pela Enterprise.
Com dois de seus tripulantes em estado grave na enfermaria, Archer
começa a questionar a decisão de ter partido da Terra
apressadamente para levar o Klingon Klaang a seu mundo natal, e
decide voltar à Estação Júpiter para instalar os canhões de
fase que deveriam ter sido colocados em funcionamento antes da
partida. Malcolm Reed e Charles Tucker insistem que não há
necessidade de dar meia-volta, e que a tripulação da Enterprise
seria capaz de fazer a instalação apropriadamente. Archer,
inseguro por suas decisões anteriores, quer voltar à Terra mesmo
assim, mas autoriza os dois a iniciarem os procedimentos de
instalação.
Reed e Tucker
convocam sua equipe e coordenam trabalho dobrado entre os
tripulantes para colocar os canhões de fase em estado operacional
o mais brevemente possível. Depois de horas e horas de esforço,
eles acabam conseguindo. Enquanto a Enterprise se prepara para
fazer o primeiro teste do equipamento, em uma lua desabitada,
Hoshi Sato tenta se aproximar de Reed no refeitório para
descobrir seu prato predileto. A oficial de comunicações usa
como pretexto o fato de querer convidar o tenente para uma refeição
em seus aposentos, o que Reed interpreta como um
"encontro". Os dois ficam muito constrangidos pela situação,
e Hoshi decide que essa não é a melhor abordagem para conseguir
a informação.
Em uma última tentativa, ela procura Phlox, que já teve várias
refeições com o tenente no refeitório. O médico não oferece
muitas pistas com suas lembranças dessas ocasiões, mas acaba por
recordar que Reed tem alergia a uma enzima encontrada comumente em
abacaxis, mas toma injeções regularmente para não ter problemas
com o consumo da fruta. Finalmente Hoshi tem alguma informação
relevante a reportar ao capitão, que pretende fazer um
jantar-surpresa para o tenente.
Chega o
momento de os canhões serem testados. Archer pede apenas um
disparo leve, para destruir apenas a porção superior de uma
montanha da lua sobre a qual a Enterprise está orbitando. Quando
Reed dispara os canhões, a potência vai ao máximo, o que faz
com que a montanha seja praticamente destruída. Ao perguntar
sobre o ocorrido, Archer é informado de que o incidente ocorreu
por uma sobrecarga do sistema. T'Pol comunica ao capitão que há
leituras anômalas na baía de shuttles dois.
Archer, T'Pol, Tucker e Reed vão até lá e descobrem um
equipamento deixado pelos alienígenas, que está conectado e
monitorando todos os seus sistemas --e provavelmente foi a causa
da sobrecarga. O capitão manda um "recado" aos alienígenas
por meio de seu equipamento, dizendo que fará tudo que for necessário
para defender a Enterprise. Em seguida, destrói a peça.
Nesse momento, a nave hostil volta a aparecer, novamente atacando
a Enterprise. Com os canhões de fase operacionais, Archer
responde fogo, mas não tem sucesso contra os agressores. Ele
pergunta a Reed se não seria possível causar uma outra
sobrecarga nos canhões, produzindo o mesmo efeito devastador de
antes. Reed e Tucker fazem as modificações no equipamento e
realizam nova sobrecarga. O disparo derruba os escudos da nave
inimiga.
Em seguida, dois
torpedos disparados pela Enterprise acertam em cheio o alvo,
fazendo com que os alienígenas batam em retirada. Com o teste
mais do que bem-sucedido dos novos equipamentos, Archer decide que
é desnecessário voltar a Terra e segue em frente em sua missão
de exploração. Ele, Reed e Tucker comemoram na sala de
armamentos, tomando um chopp, quando Hoshi chega ao local com um
contêiner. Ela diz ser a peça que o capitão pediu e quando abre
a caixa, tira de dentro um bolo, com os dizeres "Feliz anivérsário,
Malcolm". O tenente fica constrangido, e ao mesmo tempo
surpreso, ao descobrir que o recheio do bolo é de sua fruta
preferida --abacaxi. E a Enterprise segue viagem.
Comentários:
"Silent Enemy" é uma excelente
oportunidade para conhecermos o ambiente a bordo da Enterprise. O
enfoque está muito mais sobre os tripulantes da nave, seus
relacionamentos, sua rotina e seu modo de trabalho do que sobre o
que está acontecendo fora da nave. A presença dos alienígenas
hostis serve só como combustível para alimentar a evolução dos
personagens.
Quem
mais sai ganhando dessa vez é o oficial de armamentos da
Enterprise, Malcolm Reed. Não só a audiência aprende detalhes
factuais de seu passado, como por exemplo a data de seu aniversário
(2 de setembro), mas também há a revelação da verdadeira
personalidade do armeiro, algo mencionado na bíblia da série,
mas pouquíssimo trabalhado até então.
O que descobrimos é uma pessoa verdadeiramente introvertida, com
poucos amigos, que acaba, talvez por timidez, mantendo suas relações
interpessoais estritamente profissionais. Aliás, ao que parece,
Reed vive para seu trabalho.
Esse trabalho de desenvolvimento com o personagem consegue ser bem
mesclado ao enredo do episódio, de forma a não transformar a
história em uma mera coleção de situações biográficas de
Reed (aliás, de episódios significativos de sua vida pregressa
temos até pouco), mas ainda assim dando incrível vida ao oficial
de armamentos.
Em termos
simples, fica provado que um episódio voltado a personagem não
precisa ser necessariamente desprovido de ação e de um enredo
mais convencional. Na verdade, fazer os personagens reagirem a uma
dada situação, em vez de simplesmente reagirem uns com os
outros, quando bem executado, é o melhor meio de fazê-los
crescer.
Foi nesse contexto que Archer também saiu ganhando. Sua preocupação
com o lançamento prematuro da Enterprise e o fato de suas decisões
(certas ou errados) poderem custar a vida de seus tripulantes começam
a pesar sobre a consciência do capitão. Sua decisão de voltar
à Terra para providenciar a instalação dos canhões de fase
mostra um amadurecimento por parte dele --e uma evolução por
parte dos roteiristas.
Pode ser que Archer, ainda mantendo sua personalidade
bem-humorada, possa estar caminhando para ganhar um estilo de
comando mais complexo e desenvolto, próximo ao que o capitão
Christopher Pike mostrou no primeiro piloto da Série Clássica,
"The Cage".
A preocupação de Archer com os riscos que impôs a seus
tripulantes aparece de forma aguda em "Silent Enemy",
e mostra que o capitão tende a ser mais do que "o cara que
toma as decisões erradas", como às vezes pareceu em episódios
posteriores a "Broken Bow".
O episódio
também fornece insights interessantes na própria Enterprise, em
termos operacionais. É curioso observar a coordenação das
equipes para a instalação dos canhões de fase, feita por Reed e
Tucker. A reunião da equipe, conduzida pelos dois, dá um belo
clima sobre como é o trabalho a bordo da nave. Também é
introduzido um fator competitivo interessante entre os engenheiros
de bordo e a equipe da Estação Júpiter. A vontade de Reed e
Tucker de ter o trabalho feito totalmente pela equipe da nave, sem
depender dos engenheiros do complexo da Frota Estelar, mostra uma
coisa ou duas sobre o espírito humano do século 22, que depois
seria diluído nos séculos seguintes.
"Silent Enemy" também marca como o primeiro episódio
que se propõe a desenvolver duas tramas paralelas, que se
costuram no final, estilo muito utilizado em Deep Space Nine.
O enredo principal, claro, tem a ver com a ameaça constante dos
alienígenas hostis que atacam a Enterprise. A trama secundária
envolve a "missão" de descobrir o prato predileto do
tenente Reed. Com esse padrão, foi possível fazer melhor uso dos
personagens secundários --principalmente Hoshi Sato, a designada
pelo capitão à "investigação". Apesar de ser uma
tarefa pouco importante, ela ajuda a dar destaque à personagem.
E, se não fosse por outra coisa, já valeria sua participação
pela cena que ela tem com Reed no refeitório. A tentativa de
descobrir o prato favorito dele convidando-o para comer em seus
aposentos e o constrangimento do tímido tenente ao achar que
Hoshi estava interessada nele garante boas risadas.
Em compensação,
Phlox, T'Pol e Mayweather passam o episódio praticamente
esquecidos. O primeiro ainda consegue participar ativamente da
trama secundária, ainda que pouco. T'Pol faz figuração. E
Mayweather, nem isso. O pobre alferes e piloto da Enterprise não
conseguiu aparecer nem na comemoração do aniversário de Reed,
mostrada ao fim do episódio, que reuniu todos os outros oficiais
seniores humanos na sala de armamentos.
Uma cena interessante, que provoca uma risada até involuntária,
ocorre quando os tripulantes da Enterprise na ponte começam a se
contorcer após ouvir a suposta "comunicação" alienígena
--um zumbido de alta intensidade. É impossível ver Archer e seus
colegas tampando os ouvidos desesperadamente e não se lembrar de
sequências semelhantes tão comuns em episódios da Série Clássica.
É um dos momentos em que é impossível não lembrar a maior
afinidade de Enterprise com a primeira série de Jornada
do que com as produções posteriores.
E por
falar nos ataques à nave, os tais "inimigos
silenciosos" aparentemente não vieram para ficar. Sua
representatividade enquanto personagens foi tão pouco marcante
que até para instruírem a Enterprise a se render eles utilizaram
uma gravação feita pelo próprio Archer. Criados totalmente por
computador, os alienígenas cinzas podem até ser bonitos, mas estão
longe de ser os precursores de uma raça importante e cativante no
universo de Jornada nas Estrelas. Depois de apanharem da
Enterprise, eles provavelmente não voltarão nunca mais à série.
O que vai ficar é certamente o mais novo upgrade da nave --os
poderosos canhões de fase. Precursores dos bancos feisers do século
23 e 24, esses canhões são realmente impressionantes. Caíram
muito bem à série, e deixaram a Enterprise muito menos indefesa.
Apesar de serem uma boa adição (até em efeitos visuais, como se
pode ver nesse episódio), talvez eliminem um dos fatores mais
interessantes da série --a fragilidade da nave. Mas tudo vai
depender de como os roteiristas vão lidar com o equipamento. Foi
interessante a Enterprise precisar de uma sobrecarga para vencer
os alienígenas, mas é bom que o recurso não seja utilizado todo
dia. Até porque tivemos de lidar com uma dose de tecnobaboseira
um pouco acima do limite saudável nesta sequência.
Tecnicamente, o episódio conta com a hábil direção de Winrich
Kolbe. Os efeitos especiais abundam no episódio, que conta com
alienígenas feitos por computador, destruição de montanhas em
crateras lunares e tomadas mais bonitas do que nunca da NX-01, mas
o fator que mais se destaca em termos de pós-produção é a música.
Não que ela seja perfeita, mas tem uma coisa que poucas trilhas
sonoras das séries modernas de Jornada têm: presença.
Algumas vezes isso funciona negativamente, principalmente nas
cenas da primeira tentativa de contato com a nave alienígena. Mas
há momentos em que ela eleva as tomadas a um outro nível, como
na invasão alienígena e no momento em que a Enterprise vai
testar os recém-instalados canhões de fase. O crédito vai todo
para o compositor Velton Ray Bunch.
No fim das contas, o episódio ainda traz uma discussão
interessante sobre a necessidade de se aceitar riscos quando se
lida com exploração espacial. A abordagem do tema é muito mais
aproximada da dos nossos astronautas contemporâneos do que de
Kirk, Picard, Sisko ou Janeway, ajudando mais uma vez a
estebelecer um estilo próprio para a série e nos lembrar de que Enterprise
é muito mais contemporânea do que as outras séries do franchise.
Citações:
Mary Reed - "The
Reeds have been navy men for generations."
("Os Reeds foram homens da Marinha por gerações.")
Stuart Reed - "Until Malcolm decided to join Starfleet. I
suppose the ocean wasn't big enough for him."
("Até Malcolm decidir se juntar à Frota Estelar. Eu suponho
que o oceano não era grande o suficiente para ele.")
Archer - "I thought you were going to upgrade this."
("Pensei que você ia atualizar isso.")
Tucker - "That is the upgrade. Would you want, I could
change the color..."
("Essa é a atualização. Se quisesse, eu poderia mudar a
cor...")
Archer - "Well... It is being nice talking to you. Let's
do this again sometime."
("Bem... foi ótimo falar com vocês. Vamos fazer isso de
novo qualquer hora.")
Archer - "This time, we won't be leaving before we are
ready."
("Desta vez, não sairemos até estarmos prontos.")
Tucker - "Are your ears a little pointer than usual?"
("Suas orelhas estão um pouco mais pontudas que de
costume?")
Tucker - "In the old days, astronauts were in rockets with
millions of liters of hydrogen burning under their seats. Do you
think they said, 'Gee, I'd love to go to the Moon today, but it
seems a little risky'. I think if you ask anyone on board whether
they thought this mission was worth the risk, you'd get the same
answer from everyone of them."
("Nos velhos tempos, os astronautas ficavam em foguetes com
milhões de litros de hidrogênio queimando sob seus assentos. Você
acha que eles diziam, 'Cara, adoraria ir à Lua hoje, mas parece
meio arriscado'. Eu acho que se você perguntar a qualquer um a
bordo se eles acham que essa missão valia a pena, você teria a
mesma resposta de todos eles.")
Archer - "I assume you've planted that device because you
wanted to learn more about us. I'd be happy to give you a quick
lesson. We're not here to make enemies. But just because we are
not looking for a fight, it doesn't mean we'll run away from one.
You may think you've let us defenseless, but let me tell you
something about humans: we don't give up easily. We'll protect
Enterprise, anyway we can."
("Presumo que vocês plantaram esse aparelho porque queriam
aprender mais sobre nós. Eu fico feliz em dar uma liçãozinha rápida.
Não estamos aqui para fazer inimigos. Mas só porque não estamos
procurando briga, não quer dizer que fugiremos de uma. Vocês
podem pensar que nos deixaram indefesos, mas deixe-me dizer uma
coisa sobre humanos: não desistimos fácil. Protegeremos a
Enterprise, do jeito que pudermos.")
Trivia:
Apesar de ser o 11º episódio produzido, e os eventos por ele
descritos acontecerem antes de "Cold
Front", "Silent Enemy" foi exibido
depois, como o décimo segundo da série. A ordem foi restaurada
aqui para manter coerência cronológica.
Dominic Keating chegou a comentar brevemente o episódio antes da
exibição. "Temos um episódio vindo aí, 'Silent Enemy',
onde damos uns belos chutes no traseiro", disse.
A atriz britânica Jane Carr (Mary Reed) já apareceu em várias séries
americanas, como "Becker" e "Murphy Brown", além
de ter interpretado a mulher de Lomdo Timov, no episódio "Soul
Mates", de "Babylon 5". Guy Siner (Stuart Reed) é
famoso no Reino Unido por sua participação na comédia da rede
BBC "Allo Allo", como o tenente Huber Gruber. Ele também
já teve papéis em "Babylon 5" e "Dr. Who".
Paula Malcomson (Madeline Reed) apareceu em filmes como "The
Green Mile" e "A.I. - Inteligência Artificial".
John Rosenfeld (Mark Latrelle) é um dos dois únicos atores desse
episódio a ter aparecido antes em Jornada, tendo
interpretado um técnico em "Friendship One", de Voyager.
Ele também já fez participações em "ER" e "Buffy
the Vampire Slayer". Robert Mammana (engenheiro) já apareceu
como um segurança da Voyager em "Workforce".
Ficha
técnica:
Escrito por Andre Bormanis
Direção de Winrich Kolbe
Exibido em 16/01/2002
Produção: 012